quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

TODOS SÃO INTELIGENTES E PODEM APRENDER


Entrevista publicada no Jornal Mundo Jovem na edição nº 405, abril de 2010.

  Em pleno século 21, tempo de significativas mudanças em nossa sociedade, buscamos compreender nossos potenciais para aprender mais e melhor. Por isso, conversamos com o psicólogo norte-americano Howard Gardner.
     Sendo o principal idealizador da Teoria das Inteligências Múltiplas, criada e aperfeiçoada desde 1985, ele nos ajuda a entender que todos podemos aprender e, além disso, desenvolver aprendizagens a partir de diferentes inteligências.
Howard Gardner,
psicólogo norte-americano, professor de Educação e Psicologia na Universidade de Harvard e de Neurologia na Universidade de Boston.

Mundo Jovem: Entre as inteligências destacadas, há alguma que seja privilegiada pela sociedade?

Howard Gardner: Através de diferentes períodos da história, diferentes inteligências foram valorizadas. A inteligência naturalista era tremendamente importante quando vivíamos mais perto da natureza. Então, quando surgiu a capacidade de ler e escrever, a inteligência linguística se tornou hegemônica.

     Hoje em dia, penso que a atenção recai sobre as inteligências pessoais. Tanto o entendimento de outras pessoas (o que em uma sociedade diversa e globalizada é importante), mas também a inteligência intrapessoal (entender a si mesmo), porque hoje nós precisamos tomar muitas decisões sobre como nós vivemos a nossa vida. Diferentemente, há 100 anos atrás, as pessoas simplesmente faziam o que seus pais e avós haviam feito.

Mundo Jovem: Com o tempo, podem surgir mais inteligências?

Howard Gardner: Eu sou muito conservador na adição de inteligências. Tenho um conjunto de oito critérios para o que conta como uma inteligência, e, a menos que eu esteja convencido de que eles foram satisfeitos, eu não adicionaria nenhuma. Em 25 anos, eu só adicionei uma inteligência, a naturalista. E ela sempre existiu - eu só não a havia reconhecido. E uma com a qual estou brincando agora é a que eu chamei inteligência existencial. Estou procurando evidências de que há partes do cérebro que lidam com fenômenos que são grandes ou pequenos demais para serem percebidos, como questões existenciais.

Mundo Jovem: As escolas ainda têm a tendência de tratar todos os alunos da mesma maneira?

Howard Gardner: Tradicionalmente, as escolas focaram-se muito em inteligências linguísticas e lógicas. E são muito boas em educar pessoas que as dominam. A grande diferença na educação hoje é que o propósito mudou, de simplesmente selecionar os que já são bons estudantes, em favor de tentar atingir aqueles que podem não ser tão bons em linguagem e lógica. Esse é um desafio que a maioria das sociedades encontrou neste ponto.

Mundo Jovem: O que é ideal: identificar as inteligências mais latentes em uma criança e procurar desenvolvê-las melhor, ou procurar desenvolver todos os tipos de inteligência em todas as crianças?

Howard Gardner: Primeiro de tudo, esta é uma questão sobre valores e, então, não há uma resposta científica para ela. Ò uma questão de qual sistema de valores você tem. Algumas pessoas valorizam mais liberdade, outras valorizam foco e disciplina. O meu próprio sistema de valores aponta que, quando as crianças são pequenas, nós devemos expô-las a diversas experiências e encorajá-las a usar as inteligências ou aptidões que de outra forma não utilizariam.

     Pessoalmente, penso que devemos nos especializar na medida em que nós envelhecemos. Se você é bom em algo, as outras pessoas podem sempre ajudá-lo no que você não é tão bom, porque você pode ajudá-las no que elas não são tão boas. Mas nós não queremos que todos sejam especializados. Nós queremos, por exemplo, que o líder de um país saiba escolher pessoas especializadas, que tenham as habilidades que ele não tem. Então, é uma mistura complexa.

Mundo Jovem: Como o professor pode agir quando percebe que alunos estão com dificuldades na escola?

Howard Gardner: Nós precisamos fazer uma distinção entre usar certas inteligências e ser bem-sucedido em tarefas e habilidades. Não interessa o tipo de inteligência que você usa, desde que tenha sucesso na tarefa que é importante. Então, o desafio para o professor é encontrar maneiras diferentes de facilitar o sucesso naquelas tarefas designadas, e não assumir que ele só pode ser alcançado de uma única maneira.

     Somente como exemplo, eu acho que é muito importante as pessoas entenderem a respeito de estatísticas, que provavelmente são mais importantes do que álgebra e geometria (já que muitos estudam álgebra e geometria e nunca as usam), mas todos usamos as estatísticas, quer saibamos disso ou não. Então o desafio é descobrir quantas maneiras existem para fazermos alguém bom em estatísticas. Eu estou certo de que há muitas maneiras, usando muitos tipos diferentes de inteligências e de combinações de inteligências.

Mundo Jovem: Você considera importante que se façam testes em crianças para descobrir que tipos de inteligências estão mais latentes nelas?

Howard Gardner: Não. Se uma criança está indo bem, ajoelhe, agradeça e deixe-a em paz. Se uma criança está tendo problemas, então nós devemos entender quais são essas dificuldades, e isso pode incluir alguns testes de inteligências múltiplas. Em geral, fazemos testes demais e avaliações de menos. Os testes somente dão um instrumento a ser divulgado em jornais, mas sem utilidade em sala de aula. Avaliação é quando o professor faz algo para ver como seus estudantes estão indo e muda a maneira como ensina, para ajudar esses estudantes. Ò o que precisamos: de testes formativos, não somativos.

Mundo Jovem: Como se pode desenvolver as mentes de crianças em escolas de poucos recursos financeiros?

Howard Gardner: Para responder a essa pergunta, eu trago uma história. Quando eu estudei educação na China, há 25 anos, fizemos um experimento. Pedimos a crianças dos Estados Unidos e da China que desenhassem uma figura de como é estar em casa à noite. Na China, o mais comum era a criança desenhar a si mesma fazendo a lição de casa, com um dos pais sentado ao lado dela. Absolutamente nenhum estudante norte-americano fez esse desenho. A maioria das crianças desenhou a si mesma sozinha no quarto, com o rádio ligado... Então, a questão é: quão bem você usa os seus recursos? E num tempo midiático, todos têm acesso ao rádio, à televisão e, cada vez mais, a computadores... Como você usa isso? O que é moderado pelos pais? Que uso é feito desses recursos?

     Ò claro que é ótimo ter dinheiro, mas os EUA têm mais dinheiro que a maioria dos países e os seus sistemas de educação e de saúde não funcionam. O Japão e a Alemanha foram devastados pela Segunda Guerra Mundial e dentro de 25 anos eram as economias líderes nas suas regiões do mundo. Eu não sou especialista em história do Brasil, mas penso que apenas recentemente se fez uso apropriado dos recursos brasileiros, e é por isso que hoje falamos sobre os países do BRIC (grupo dos principais países emergentes: Brasil, Rússia, Òndia e China).

Mundo Jovem: Como se pode interpretar o século 21 a partir dessa teoria e a educação?

Howard Gardner: A mente e o cérebro evoluem muito lentamente, através de milhares de anos, não de centenas de dias. Nosso cérebro e nossa genética não são muito diferentes de povos que viviam há 40 mil anos. Mas é claro que o que acontece no mundo afeta o modo como usamos essas capacidades humanas. Então, por exemplo, a inteligência naturalista evoluiu de saber distinguir plantas, animais e nuvens, e agora é usada pela sociedade de consumo, para saber qual marca de tênis ou automóvel comprar. Ò o mesmo cérebro, mas usado para propósitos muito diferentes.

Mundo Jovem: É possível antecipar as principais transformações cognitivas para a próxima geração?
Howard Gardner: Haverá um problema de as pessoas se aprofundarem nos assuntos, porque a internet promove um efeito poça d
⒠água, que é ampla, mas rasa. Também precisamos descobrir quando a ação multitarefa é vantajosa e quando é desvantajosa, e então desencorajar o uso dessa habilidade multitarefa quando não for vantajosa.

     A questão de assumir riscos e da criatividade está meio nebulosa no momento. Os novos meios de comunicação parecem promover a criatividade e a assunção de riscos, mas nós ainda não temos isso na prática. A ética das novas mídias é um território completamente desconhecido, como o Velho Oeste. Ninguém ainda sabe como isso vai se acomodar.

O que são inteligências múltiplas?

     A principal contribuição da Teoria das Inteligências Múltiplas é afirmar que o indivíduo não possui apenas uma inteligência, mensurável, inata, considerada por muitas pessoas como inteligência geral. Essa ideia durante anos buscou rotular indivíduos como inteligentes ou não, definindo que uma quantidade grande de pessoas marginalizadas pelos processos sociais não fossem bem-sucedidas na escola.

     Opondo-se ao conceito de inteligência geral, Gardner mostra que todos os indivíduos são inteligentes, mas de maneiras diferentes, e que suas inteligências serão reforçadas, desenvolvidas ou não, dependendo dos estímulos que receberem do ambiente e da cultura que os cercam. Sendo assim, algumas inteligências são relativamente independentes das outras e podem ser modeladas, combinadas numa multiplicidade de maneiras de serem adaptadas pelos sujeitos e por suas culturas.

1) Lógico-matemática: capacidade de confrontar e avaliar objetos e abstrações, distinguir relações e princípios. Predomina em matemáticos, cientistas e filósofos.
2) Linguística: caracteriza-se por gosto e domínio especial de idiomas e palavras. Predomina em poetas, escritores e linguistas.
3) Musical: identificável pela habilidade para compor e executar padrões musicais, em termos de ritmo e timbre, mas também escutando-os e discernindo-os. Predomina em compositores, maestros, músicos e críticos de música.
4) Espacial: expressa-se pela capacidade de compreender o mundo visual com precisão, permitindo recriar experiências visuais. Predomina em arquitetos, artistas, escultores, cartógrafos, navegadores e jogadores de xadrez.
5) Corporal-cinestésica: revela-se na maior capacidade de controlar e orquestrar movimentos do corpo. Predomina em atores e aqueles que praticam dança ou esportes.
6) Intrapessoal: expressa-se na capacidade de conhecer a si própio. Predomina em escritores, psicoterapeutas e conselheiros.
7) Interpessoal: expressa-se pela habilidade de entender intenções, motivações e desejos dos outros. Predomina em políticos, religiosos e professores.
8) Naturalista: traduz-se na sensibilidade para compreender e organizar objetos, fenômenos e padrões da natureza, como reconhecer e classificar plantas, animais, minerais, entre outros. Predomina em paisagistas e arquitetos.

     A inteligência existencial ainda está em processo de investigação. Abrange a capacidade de refletir sobre questões fundamentais da existência. Seria característica de líderes espirituais e pensadores filosóficos.

Sugestão de Leitura:
- GARDNER, Howard. Cinco mentes para o futuro. Editora Artmed.

Esta entrevista foi realizada de maneira coletiva, antes da conferência que Gardner apresentou no seminário Fronteiras do Pensamento, em Porto Alegre, RS.






terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dicas para o trabalho com projetos

12/12/2011 - 07h44

Professores avaliam uso de games em aulas

Publicidade
ALEXANDRE ORRICO
DE SÃO PAULO
Games ambientados no Oriente Médio para ensinar geografia e história ou um jogo onde você controla a construção de uma cidade para entender o conceito de desenvolvimento sustentável.
Esses são alguns dos exemplos de jogos citados no Games for Change (G4C), que acabou ontem em São Paulo.
Luiza Sigulem/Folhapress
Andre Hashimoto, 32, desenvolvedor de jogos na oficina "Brincriação" do Games for Change
Andre Hashimoto, 32, desenvolvedor de jogos na oficina "Brincriação" do Games for Change
"O G4C defende que jogos eletrônicos podem ser fortes ferramentas de educação e conscientização social", afirma Gilson Schwartz, coordenador do G4C Brasil.
Thomas Rodrigues, 26, professor concursado da prefeitura de Itu, era um dos interessados na oficina "Brincriação -a imaginação dos jovens e o poder criativo dos games", que aconteceu ontem no MIS (Museu da Imagem e do Som), na zona oeste.
Rodrigues gosta de dar aulas de inglês com ajuda dos videogames. "Não tem ferramenta mais eficaz. Uso jogos de dança e de aventura, onde digo em inglês o que quero que as crianças façam. Elas aprendem muito rápido".
Lucia Santaella, pesquisadora e professora doutora da PUC-SP, disse no evento que "a escola precisa acordar e utilizar a lógica dos games nas aulas. Eles têm tudo o que é necessário para os estudantes se engajarem".
Apaixonados por games, programadores e interessados por tecnologia se reuniram com pesquisadores acadêmicos e gestores públicos nos quatro dias de evento na USP, no Mackenzie e no MIS.
"Esse foi apenas o primeiro G4C no Brasil. Esperamos que o evento ajude a firmar a ideia de games como instrumento de ensino no Brasil", afirma Schwartz.
Retirado de :  http://www1.folha.uol.com.br/saber/1019946-professores-avaliam-uso-de-games-em-aulas.shtml