Ali
Yezid Izz-Eddin Ibn Salim Hank Malba Tahan, escritor que teria nascido
em 1885 na Península Arábica próxima à Meca, fez diversas andanças pelo
mundo, cujas histórias apareciam em seus livros. Estas, entre uma
aventura e outra, traziam os segredos da matemática – com soluções que
misturavam argúcia e talento. O maior exemplo é o consagrado livro O homem que calculava (1938).
Tahan,
tal qual descrito, nunca existiu. Ele é heterônimo do professor carioca
Júlio César de Mello e Souza (1895-1974). Em uma entrevista fictícia
com Malba, Júlio fez a seguinte confissão: “quando começo a preparar
livros didáticos para matemática, começo a pensar em formas diferentes
de tratar o livro, sem destruir a matemática. São duas coisas
diferentes, não há como ensinar matemática sem números, operações e
sistemas. É preciso somar e subtrair. Mas é possível apresentá-la de
alguma forma diferente?”.
Matemática
é a arte de pensar: pensar de maneira abstrata; pensar para se chegar a
objetivos conseguidos através da reflexão, e não dos sentidos. Nesses
fatores é que se encontram os desafios do ensino e aprendizagem da área
em qualquer nível de formação. Para tanto, tal qual Malba Tahan fazia
com seus contos, uma série de iniciativas desenvolvidas por
pesquisadores auxiliam na motivação dos alunos a prosseguirem se
dedicando aos estudos – sendo forte aliadas para o professor e
complementando a reflexão fora das paredes da sala de aula. Como
sabiamente dito por Mello e Souza: formas serão encontradas.
O
esforço, cada vez mais concentrado e abrangente dos pesquisadores e
entusiastas, é para fazer entender que a matemática é o caminho do
raciocínio lógico e da resolução racional de problemas. As iniciativas,
de certa maneira, buscam ultrapassar o estigma de a matemática ser
considerada o lugar onde se lida somente com números. A literatura é uma
dessas iniciativas, mas nem de longe a única.
Laura
Leticia Ramos Rifo, diretora associada do Museu Exploratório de
Ciências e professora do Departamento de Estatística do Instituto de
Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp), explica que o Brasil conta, ao longo do tempo,
com uma série de boas iniciativas que complementam o ensino de
matemática.
“Em
2007, o MEC, em parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, lançou um edital promovendo a construção de recursos
educacionais multimídia para o ensino médio com a participação direta de
diversas universidades brasileiras. A Unicamp participou ativamente
nesse projeto, com mais de 350 produtos em matemática, entre
curta-metragens, softwares, experimentos para sala de aula e programas
de áudio”, conta Laura. Os materiais desenvolvidos pela iniciativa são
usados por professores da rede pública do estado de São Paulo.
Por sua vez, diz Laura, o governo federal mantém ainda o Portal do Professor.
O site contém diversas ferramentas multimídias que o professores podem
utilizar, não somente em matemática, mas em todas as áreas do
conhecimento.
Museus voltados para a ciência
Outra
possibilidade para essa complementaridade são os museus de ciências:
locais voltados exclusivamente para a divulgação científica. Um dos
exemplos do bom uso de tais museus para o ensino de matemática é a Matemateca,
exposição itinerante que apresenta mais de 30 objetos que demonstram
vários conceitos matemáticos, dentre eles o cone ascendente, o tabuleiro
de Galton (pequenas bolas que dão noções de probabilidade) e poliedros.
“Em
um museu de ciências, temos a possibilidade de interagir, intelectual
ou também fisicamente, com conceitos, muitas vezes, pouco familiares”,
observa Laura. Para a professora, é frente ao desconhecido que começamos
a nos instigar. “Começamos a criar hipóteses plausíveis para
explicá-lo, colocando em funcionamento nossa massa cinzenta com
estímulos não habituais, que nos permitem formular perguntas e tentar
respondê-las”, enfatiza.
Próximas
da ideia de exposição itinerante também estão as feiras estudantis. O
destaque nacional fica por conta da Feira Estudantil Redescobrindo a
Matemática (Fermat), organizada pelo Programa de Educação Tutorial (PET)
Matemática da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). José Luiz
Rosas Pinho, líder do PET Matemática, cita como exemplo a rigidez dos
currículos escolares – quando não resta tempo na escola para poder se
dedicar com mais profundidade a um determinado assunto. “Com a
realização da feira, procuramos oportunizar esse momento de abertura de
ideias e de reflexão em matemática ao estudante. Mais adiante, quando
adultos, essas pessoas já terão maturidade e experiência suficientes
para decidir e se dedicar àquilo que mais se identificam”, explica.
A
própria Fermat já deu resultados e ganhou respeito junto ao público:
desde 2008 cerca de 2.500 estudantes foram conferir as atividades
oferecidas e que se ligam à matemática de uma maneira lúdica por meio de
oficinas de origami e informações sobre razão áurea, cubo mágico, quizz, quadrado mágico, entre outras brincadeiras.
“Descobrir
a matemática, ou as ciências em geral, é tão importante quanto
descobrir as artes, a filosofia, enfim, qualquer área do conhecimento
humano. Não se trata de dar um sentido utilitarista a esse conhecimento,
embora aplicações sejam evidentes, mas da formação, do
autoconhecimento, da capacidade de reflexão e de criatividade do ser
humano”, ressalta Pinho.
“O fascínio pelo conhecimento: para isso é necessário apaixonar-se por ele.
Creio que é, aproveitando o trocadilho do título desta revista, uma questão de consciência”,afirma o organizador da Fermat.
Fonte: Divulgação UFSC
Olimpíadas
De
todas as ações e esforços para compelir os estudantes a gostarem de
matemática, nenhuma tem tanta projeção quanto a Olimpíada de Matemática.
A prática é tradicional: em 1959 foi organizada a primeira competição
internacional, na Romênia. Em 1979, foi a vez de o Brasil organizar a
sua própria. A ideia nunca deixou de ser simples: alunos do mesmo nível
competem entre si, independente de escolas. Os vencedores representam o
país em competições internacionais.
Medalha ganha por brasileiro de 16 anos
na Olimpíada Internacional de Matemática deste ano:
a 9ª de ouro em 33 anos. Fonte: Divulgação
No Brasil, temos uma versão da Olimpíada exclusiva para escolas públicas, chamada de Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas
(OBMEP) – montada exclusivamente para a competição de alunos que estão
em escolas mantidas pelos municípios, estados e governo federal. Todos
os anos são realizadas provas para alunos dos ensinos fundamental e
médio. Até 2012, ao todo, mais de 46.700 escolas e mais de 19 milhões de
alunos foram inscritos. Os recordes de participação fizeram com que a
OBMEP seja considerada a maior Olimpíada de Matemática do mundo.
“As
olimpíadas de matemática procuram estimular a criatividade e aproveitar
o espírito lúdico dos jovens. Procuramos propor problemas desafiadores
que não dependam de muita teoria, mas que estimulem os alunos a combinar
ideias de vários assuntos de matemática de maneira criativa”, diz
Carlos Gustavo Moreira, coordenador-geral da OBM.
Moreira
sabe que somente a Olimpíada não é suficiente para diminuir o gargalo
entre um baixo nível básico de ensino e uma respeitosa colocação dentre
os primeiros colocados em competições internacionais. Para ele, a
motivação nasce ao se estimular a criatividade, mostrando que é possível
“criar” matemática. Para ele, não há segredo na receita para aumentar o
número de amantes da matemática no Brasil:
“Aumentando
a interação entre pesquisadores de matemática e alunos e professores do
ensino médio – as Olimpíadas e programas como o Profmat,
mestrado profissional para aperfeiçoamento de professores, pretendem
colaborar com esses objetivos. E mostrando o papel central que a
matemática tem na ciência e tecnologia atuais”, elenca.
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