domingo, 25 de agosto de 2013

A ESCOLA DOS MEUS SONHOS

RETIRADO : http://www.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=16276


Frei Betto
Frei Betto. Foto: Divulgação
Uma semana ao ano integram-se, na cidade, ao trabalho de lixeiros, enfermeiras, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim, aprendem como a cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões subterrâneas que, à superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro de saúde, segurança, informação e alimentação.
Não há temas tabus. Todas as situações-limites da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali os alunos aprendem o texto dentro do contexto: a matemática busca exemplos na corrupção dos precatórios e nos leilões das privatizações; o português, na fala dos apresentadores de TV e nos textos de jornais; a geografia, nos suplementos de turismo e nos conflitos internacionais; a física, nas corridas da Fórmula 1 e pesquisas do supertelescópio Hubble; a química, na qualidade dos cosméticos e na culinária; a história, na violência de policiais a cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores-índios, senhores-escravos, Exército-Canudos etc.
Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade permite que os professores de biologia e de educação física se complementem; a multidisciplinaridade faz com que a história do livro seja estudada a partir da análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de meditação e de dança, e associa a história da arte à história das ideologias e das expressões litúrgicas.
Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: o rabino fala do judaísmo; o pai-de-santo do candomblé; o padre do catolicismo; o médium do espiritismo; o pastor do protestantismo; o guru do budismo etc. Se for católica, promove retiros espirituais e adequação do currículo ao calendário litúrgico da Igreja.
Na escola dos meus sonhos, os professores são obrigados a fazerem periódicos treinamentos e cursos de capacitação, e só são admitidos se, além da competência, comungam com os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática. Porque é uma escola com ideologia, visão de mundo e perfil definido sobre o que são democracia e cidadania. Essa escola não forma consumidores, mas cidadãos.
Ela não briga com a TV, mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto, adquirido; sua química, analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente; a visão de felicidade; a relação animador-platéia; os tabus e preconceitos reforçados etc. Em suma, não se fecha os olhos à realidade; muda-se a ótica de encará-la.
Há uma integração entre escola, família e sociedade. A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são levadas a sério e um mês por ano setores não vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos analisados e comparados às suas práticas.
Não há provas baseadas no prodígio da memória nem na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho mestre Geraldo França de Lima, professor de História (hoje romancista e membro da Academia Brasileira de Letras), no dia da prova sobre a Independência do Brasil os alunos traziam à classe toda a bibliografia pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar.
Não há coincidência entre o calendário gregoriano e o curricular. João pode cursar a 5ª série em seis meses ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos.
É mais importante educar que instruir; formar pessoas que profissionais; ensinar a mudar o mundo que a ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com nossa unidade corpo-espírito, e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.
Na escola dos meus sonhos, os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio para poderem se manter. Pois é a escola de uma sociedade onde educação não é privilégio, mas direito universal e, o acesso a ela, dever obrigatório.

domingo, 18 de agosto de 2013

PROLETÁRIOS DO GIZ

Em entrevista, Alfredo Bosi, professor da faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, comenta os resultados do IDHM e a qualidade da Educação brasileira

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)



Quando o mestre de literatura no colegial, nos anos 1960 e 70, Alfredo Bosi oferecia Camões aos Alunos. E recebia em troca Gigantes Adamastores empoleirados nas cadeiras, recitando estrofes completas do poeta português. Era sua voz contra a “pedagogia da preguiça”, que dava o mínimo do mínimo à juventude, quando ela estava pronta para o máximo.
Professor há quatro décadas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ele continua num traçado pessoal pela qualidade do Ensino. Daí sua preocupação com o resultado do último índice de Desenvolvimento Humano das cidades brasileiras, que aponta a Educação como a bigorna a puxar o índice para baixo.
Não é questão de distribuir kits e comprar mais computadores. Nem de sair às ruas pedindo Mais Professores,nos moldes do Mais Médicos. Para ele, falta valorizar econômica, social e culturalmente a profissão que seus Alunos da faculdade não querem mais seguir. “Opunctum dolens ainda é o desestímulo sofrido pelo Professor pelo excesso de trabalho, quase sempre em mais de uma Escola, e pela angustiante falta de tempo para preparar as aulas e acompanhar de perto o aproveitamento dos Alunos.” Sem retorno, eles preferem trabalhar em empresas, laboratórios ou em pesquisa avançada. Não aceitam ser proletários do giz e da lousa. Ou do pincel atômico e do power point, que seja.
Este elegante imortal de 76 anos também refletiu sobre a avaliação dos Alunos, “que passou de um extremo a outro, ambos lastimáveis”, e sobre o repasse dos royalties do petróleo, “que precisa ser administrado à altura das nobres intenções que o motivaram”. Refletir, aliás, é algo que cultiva em toda a sua carreira de crítico literário,historiador, ensaísta e ponto de resistência durante a ditadura, quando reunia padres, sindicalistas e intelectuais em sua casa em Cotia, onde mora. Em setembro ele voltará a matutar em conjunto no Colégio do Brasil, no Rio de Janeiro.
Ali começam as reuniões do Círculo do Pensamento, bolado por 20 intelectuais - Bosi entre eles - para lutar contra a “dieta reflexiva de astronauta dos nossos tempos”, como afirma o escritor Eduardo Portella. Dieta rala, modesta, que Alfredo Bosi certamente vai encorpar: “Ele é um homem de literatura que se distingue pela capacidade de pensar”, finaliza o também Professor Portella.
O IDH avançou 47,8% no Brasil. No entanto, a Educação ainda é apontada como um entrave, pois se mantém num degrau médio. Como soltar esse freio de mão?
Como Professor secundário e universitário que fui durante quatro décadas, pude observar de perto tanto os pontos altos como as carências dessa área capital para o desenvolvimento e qualidade de vida de nosso povo.
Os pontos altos encontram-se, em geral, no Ensino superior e, mais particularmente, nos cursos de pós-graduação. Quem acompanha a produção em várias áreas de pesquisa dita “de ponta”, e o trabalho intenso desenvolvido por agências como Fapesp, CNPq, Finep, não pode deixar de alimentar esperanças em termos de nível intelectual, que, em alguns casos, iguala o de centros universitários de reputação internacional. No entanto, quando voltamos o olhar ao Ensino primário e secundário, temos um panorama inquietante em que as exceções, embora honrosas, são ainda poucas.

Ao mesmo tempo, a Educação foi o indicador que mais teve avanço desde 1991.
Os índices apontam para um avanço significativo ocorrido nestes primeiros anos do século 21, fato em si mesmo alvissareiro. Houve, de fato, um progresso quantitativo, pois, salvo em alguns bolsões de extrema pobreza, pode-se dizer que quase toda a população em idade Escolar está nas salas de aula. Mas também fica evidente que há muito por fazer em termos de qualidade para chegarmos a um patamar suficiente, se comparamos nossa situação com a de outras nações, não só com as desenvolvidas, mas com algumas de economia modesta, como Uruguai, Cuba, Chile e Costa Rica. O crescimento econômico medido em termos de PIB não é garantia de uma política enérgica de Educação, para a qual o valor prioritário deve ser a formação intelectual e ética do cidadão.
Em que estamos patinando?
Há muito tempo venho me preocupando com o diagnóstico dos males de nossa Educação fundamental. Em artigos que escrevi para a Folha de S. Paulo (O Ponto Cego do Ensino Público) e para o Jornal do Brasil (Educação: as Pessoas e as Coisas), relatei os resultados de uma pesquisa que fiz registrando os salários dos Professores dos cursos básicos em todo o País. Até os anos 1990, a maioria absoluta dos nossos mestres-Escola não ganhava sequer um salário mínimo mensal. Eram proletários do giz e da lousa, que precisavam dar um número altíssimo de aulas para receberem um salário que significava então metade e às vezes um terço do que recebiam os Docentes universitários em início de carreira. Era uma desproporção injusta e lesiva para o Professor, para os Alunos e para toda a sociedade brasileira. A pesquisa tocava no ponto cego do nosso Ensino público: a desvalorização econômica, social e cultural do Professor como o fator mais significativo do baixo rendimento do sistema educacional.
O que mudou de lá para cá?
A política dos poderes estaduais e municipais, que são os responsáveis pelo Ensino básico, continuou subestimando a questão da valorização efetiva, e não só retórica, do Professorado. Atribuiu-se equivocadamente o insucesso Escolar a problemas de saúde do Aluno pobre ou à “carência cultural” de suas famílias. Ou, então, especialistas em pedagogia davam excessiva importância ao uso deste ou daquele método de Alfabetização, deste ou daquele sistema de Ensino de matérias fundamentais como a matemática, a história, as ciências. Eram fatores relativamente importantes, mas desviavam a atenção para o que é essencial. O punctum dolens era e ainda é o desestímulo sofrido pelo Professor pelo excesso de trabalho, quase sempre em mais de uma Escola, e pela angustiante falta de tempo para preparar suas aulas e acompanhar de perto o aproveitamento dos Alunos. A distribuição de kits, livros, computadores e material Escolar não deve substituir uma política corajosa de elevação salarial e valorização social do Professor. As coisas por si sós não movem o processo educacional: o centro vivo são as pessoas, sua vontade cidadã de contribuir para o desenvolvimento intelectual e moral do jovem Aluno.
No molde do ‘Mais Médicos", a população deveria ir às ruas pedir ‘Mais Professores"?
Não sei se é o caso de reclamar por “mais Professores”, embora me pareça razoável, salvo melhor juízo, que em alguns municípios carentes se reclame por mais médicos. O fato é que em Escolas de periferia de São Paulo (não conheço a situação de outros Estados) muitas classes ficam sem Docentes de matérias fundamentais como português e matemática, porque os Professores contratados faltam às aulas com uma frequência inquietante. Pergunto se não é o caso de pesquisar as causas desse comportamento que, de minha parte, se deveria atribuir ao desânimo de profissionais que ganham mal e não recebem do Estado o respeito e o estímulo de que necessitam para enfrentar as dificuldades cotidianas de seu trabalho. Como Professor de uma das melhores faculdades de letras e humanidades do País, verifico que grande parte dos Alunos graduados em matérias humanísticas e literárias não escolhe o magistério primário e secundário como carreira prioritária, embora tenha recebido formação específica para exercê-la. Há situações semelhantes entre Alunos formados em matemática, física, química, biologia. Preferem trabalhar em empresas, laboratórios ou pesquisa avançada e dão as costas para a missão de transmitir seus conhecimentos em condições que estão aquém de suas expectativas profissionais. Trata-se de um sintoma de desistência do magistério, que precisamos interpretar corretamente para passar do diagnóstico à terapia.
Qual é o seu diagnóstico sobre o aprendizado do Aluno?
Do ponto de vista estritamente pedagógico, a avaliação do Aluno passou de um extremo a outro, ambos lastimáveis. Com a boa intenção de minorar o mal da repetência, endêmico até os anos 1990, algumas Secretarias de Educação optaram por um sistema de tolerância máxima pelo qual se evita sistematicamente reprovar todo e qualquer Aluno, aprovando-o “para inglês ver”, isto é, para parecer que o Ensino foi bem-sucedido e fazer esse êxito numérico constar das estatísticas Escolares. A situação assemelha-se à triste farsa dos que fingem que ensinam e dos que fingem que aprendem. Já é consenso lamentar que boa parte dos Alunos que chegam ao último ano do Ensino fundamental ainda tenha problemas graves de Alfabetização, leitura, escrita, raciocínio matemático, etc. Parece-me que o bom senso exige uma revisão de alguns procedimentos automáticos e irresponsáveis desse processo que está desmoralizando o Ensino básico brasileiro. O maior gargalo parece ser o da passagem do Ensino fundamental para o médio. Mas não devemos desanimar, pois a qualidade da Educação pública já foi excelente até os anos 1950, antes da explosão da sociedade de massas. Se não podemos voltar atrás, pois as condições objetivas são tão diferentes, devemos pelo menos apostar em estratégias que se ajustem às necessidades atuais, trabalhando nas duas pontas: valorizando o Professor e oferecendo ao Aluno o que ele merece, sem deixar de exigir o que ele pode dar.
Por que a inclusão social brasileira dos últimos 20 anos não atingiu a população nesse particular? Ainda vigora entre nós uma cultura Escolar elitista?
Quando se fala em “cultura Escolar elitista”, pensa-se na questão candente da exclusão Escolar e cultural. O remédio proposto ultimamente é o das cotas concedidas a Alunos de famílias de baixa renda, provenientes de Escolas públicas, e de preferência não brancos, negros e índios. A matéria é controversa e não sei se poderia tratá-la nesta entrevista, na medida em que me faltam dados confiáveis para avaliar o que está acontecendo e sobretudo o que vai acontecer a partir da concessão obrigatória das cotas. É sempre problemático querer resolver um mal pelo seu efeito final, no caso, a dificuldade de um Aluno (prejudicado pelas condições acima descritas) superar a barreira de um vestibular público. O que me parece absolutamente necessário é dar a todos os Alunos do Ensino médio condições intelectuais para concorrerem em qualquer tipo de vestibular. Em outras palavras, enfrentar corajosamente a situação desfavorável do Aluno da Escola média pública quando confrontada com a das Escolas particulares escolhidas pela alta classe média. A revolução educacional tem de começar de baixo para cima. O que é, sem dúvida, mais difícil e mais demorado do que remediar, pelo alto, uma situação desequilibrada que vem de longe. Em Educação, democracia significa dar igualdade de oportunidades de conhecimento a todos os cidadãos sem distinção de idade, cor, gênero, nacionalidade ou renda familiar.
Como resposta às manifestações, a presidente Dilma apontou o uso dos royalties do petróleo na Educação como um dos cinco pactos firmados com prefeitos e governadores. Esse montante, porém, só estará disponível em 2020. E questiona-se a forma como será aplicado. A Educação já faz parte da agenda estratégica dos governos?
Quero dizer, falta-lhes apenas mais dinheiro?
Espero que o grande aporte ao sistema educacional, proposto pela presidente Dilma, relativo aos royalties do pré-sal, seja administrado à altura das nobres intenções que o motivaram. E que, na hora decisiva da distribuição das verbas federais, as redes sociais e o Ministério Público fiquem atentos aos desvios que tantas vezes os executivos municipais operam, à socapa, canalizando o dinheiro concedido à Educação para a prática do nepotismo e a construção de obras eleitoreiras. Finalmente, que seja equacionado com justeza o problema da valorização econômica do Professor primário e secundário. 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

ANALFABETISMO FUNCIONAL NÃO É SÓ NA ESCOLA PÚBLICA

retirado: http://www.cartacapital.com.br/revista/758/analfabetismo-funcional-6202.html

Carta capital - Educação

Analfabetismo funcional

Alarmante! A dificuldade para interpretar textos e contextos, articular ideias e escrever está presente em seletos ambientes do mundo corporativo e da academia

por Thomaz Wood Jr. publicado 24/07/2013 08:52



analfabetismo funcional
Em um mundo no qual a comunicação se dá por mensagens eletrônicas e tuítes, escrever com clareza não é mais importante
A condição de analfabeto funcional aplica-se a indivíduos que, mesmo capazes de identificar letras e números, não conseguem interpretar textos e realizar operações matemáticas mais elaboradas. Tal condição limita severamente o desenvolvimento pessoal e profissional. O quadro brasileiro é preocupante, embora alguns indicadores mostrem uma evolução positiva nos últimos anos.

Uma variação do analfabetismo funcional parece estar presente no topo da pirâmide corporativa e na academia. Em uma longa série de entrevistas realizadas por este escriba, nos últimos cinco anos, com diretores de grandes empresas locais, uma queixa revelou-se rotineira: falta a muitos profissionais da média gerência a capacidade de interpretar de forma sistemática situações de trabalho, relacionar devidamente causas e efeitos, encontrar soluções e comunicá-las de forma estruturada. Não se trata apenas de usar corretamente o vernáculo, mas de saber tratar informações e dados de maneira lógica e expressar ideias e proposições de forma inteligível, com começo, meio e fim.

Na academia, o cenário não é menos preocupante. Colegas professores, com atuação em administração de empresas, frequentemente reclamam de pupilos incapazes de criar parágrafos coerentes e expressar suas ideias com clareza. A dificuldade afeta alunos de MBAs, mestrandos e mesmo doutorandos. Editores de periódicos científicos da mesma área frequentemente deploram a enorme quantidade de manuscritos vazios, herméticos e incoerentes recebidos para publicação. E frequentemente seus autores são pós-doutores!
O problema não é exclusivamente tropical. Michael Skapinker registrou recentemente em sua coluna no jornal inglês Financial Times a história de um professor de uma renomada universidade norte-americana. O tal mestre acreditava que escrever com clareza constitui habilidade relevante para seus alunos, futuros administradores e advogados. Passava-lhes, semanalmente, a tarefa de escrever um texto curto, o qual corrigia, avaliando a capacidade analítica dos autores. Pois a atividade causou tal revolta que o diretor da instituição solicitou ao professor torná-la facultativa. Os alunos parecem acreditar que, em um mundo no qual a comunicação se dá por mensagens eletrônicas e tuítes, escrever com clareza não é mais importante.
O mesmo Skapinker lembra uma emblemática matéria de capa da revista norte-americana Newsweek, intitulada “Why Johnny can’t write”. Merrill Sheils, autora do texto, revelou à época um quadro preocupante do declínio da linguagem escrita nos Estados Unidos. Para Sheils, o sistema educacional, da escola fundamental à faculdade, desovava na sociedade uma geração de semianalfabetos. Com o tempo, explicou a autora, as habilidades de leitura pioraram, as habilidades verbais se deterioraram e os norte-americanos tornaram-se capazes de usar apenas as mais simples estruturas e o mais rudimentar vocabulário ao escrever, próprios da tevê.

Entre as diversas faixas etárias, os adolescentes eram os que mais sofriam para produzir um texto minimamente coerente e organizado. E o mundo corporativo também acusou o golpe, pois parte de sua comunicação formal exige precisão e clareza, características cada vez mais difíceis de encontrar. Educadores mencionados no artigo observaram: um estudante que não consegue ler e compreender textos jamais será capaz de escrever bem. Importante: a matéria da Newsweek é de 1975!
Quase 40 anos depois, os iletrados trópicos parecem sofrer do mesmo flagelo. Por aqui, vivemos uma situação curiosa: de um lado, cresce a demanda por análises e raciocínios sofisticados e complexos. E, de outro, faltam competências básicas relacionadas ao pensamento analítico e à articulação de ideias. O resultado é ora constrangedor, ora cômico. Nas empresas, muitos profissionais parecem tentar tapar o sol com uma peneira de powerpoints, abarrotados de informação e vazios de sentido.
Na academia, multiplicam-se textos caudalosos, impenetráveis e ocos. Se aprender a escrever é aprender a pensar, e escrever for mesmo uma atividade em declínio, então talvez estejamos rumando céleres à condição de invertebrados intelectuais.

sábado, 29 de junho de 2013

ENTREVISTA DO FILÓSOFO MARCOS NOBRE

  retirado: http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/06/29/marcos-nobre-crise-de-um-sistema-politico-fechado-em-si-501610.asp?

Marcos Nobre: a crise de um sistema político fechado em si

Para o filósofo Marcos Nobre, convidado da Flip, as manifestações pelo Brasil colocam em xeque o ‘peemedebismo’, como ele chama a blindagem contra a influência das forças sociais de transformação
Por Leonardo Cazes

O filósofo e professor da Unicamp Marcos Nobre conta que passou 10 dias sem dormir para escrever o e-book “Choque de democracia: razões da revolta”, lançado na quinta-feira e que marca a estreia do selo Breve Companhia, da editora Companhia das Letras, exclusivamente digital e dedicado a textos curtos de ficção e não ficção. O ensaio é uma interpretação sobre os protestos que varrem o país desde 13 de junho e suas consequências para a política e a sociedade brasileira. Em entrevista ao GLOBO, Nobre — que estará na Flip — explica o que chama de “peemedebismo”, a forma encontrada pelo sistema político de se blindar contra as forças sociais e cujo primeiro arranjo já apareceu na Constituinte. O termo foi cunhado em 2009 e é a chave do livro que Nobre terminava de escrever quando foi atropelado pelos acontecimentos. Na sua opinião, há uma necessidade inequívoca de se aprofundar a democracia brasileira.

Qual sua avaliação do movimento que tomou as ruas do país desde o início do mês?

Algumas coisas já se sedimentaram no debate público: o movimento não tem uma pauta única, não tem um centro único de organização. São muitas pautas, muitos centros, as redes sociais são muito importantes. As pessoas olham isso e falam: não estamos entendendo. É claro! Se você pegar os movimentos de massa do Brasil, as Diretas ou o impeachment do Collor, havia uma espécie de unidade forçada. Os diferentes grupos abriam mão de suas diferenças para combater um inimigo comum. Agora não existe essa unidade forçada. Não é uma frente com objetivo único. Então, dizem que é desorganizado, mas, na verdade, o que ele não tem é essa unidade forçada. É um movimento inteiramente novo. Qual é o traço de união que ele possui? Para mim, todos esses movimentos são contra o sistema político que se blinda contra as forças sociais. Veja o que aconteceu desde o impeachment do Collor. Primeiro, derrubou-se um presidente. Depois, quando houve a batalha campal entre os senadores Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, os dois renunciaram aos mandatos. Aí vem o mensalão, em 2005, com vários deputados processados e dois cassados. Em 2007, a coisa começa a mudar. Mesmo com aquela pressão toda sobre Renan Calheiros, ele renunciou à presidência do Senado, mas não ao cargo de senador. Quando vem o José Sarney, em 2009, há a série de denúncias dos atos secretos e ele não perde o mandato nem a presidência do Senado. Claramente existe um fechamento do sistema político em relação a insatisfação da sociedade. Esse processo não ocorreu de um dia para o outro. Ele começa no impeachment, que foi um momento traumático para o sistema político.

Mas o impeachment não foi possível porque Collor mantinha uma base frágil no Congresso Nacional?

Esse foi o peixe que o sistema político vendeu para a sociedade: Collor caiu porque não tinha uma supermaioria no Congresso. O mito da necessidade de uma supermaioria foi a maneira de o sistema político se blindar para continuar funcionando do mesmo jeito de sempre. Esse fechamento em si mesmo é o que chamo de “peemedebismo”, em homenagem ao partido que criou essa figura na década de 1980 para frear as forças sociais na Constituinte. É a própria ideologia do sistema político fechado em si mesmo que cria esse mito da supermaioria. E aí a gente trava, não avança.

Quais são as origens históricas do “peemedebismo”?

O primeiro ensaio do “peemedebismo” se dá na Constituinte. A transição brasileira foi um pacto de elites, um dos maiores apoiadores da ditadura se tornou o primeiro presidente civil. De repente, esse sistema político se vê diante de uma quantidade gigantesca de forças sociais organizadas. Nunca houve tanta participação popular no Brasil quanto na Constituinte. Então, é criado um sistema de filtragem e barragem da pressão popular. Como isso foi feito? As forças sociais eram muitas e diversas, não tinham uma unidade ou um partido que as representassem. Nesse contexto, o “centrão” da Constituinte é fundamental. Primeiro ele enfatiza a fragmentação dos movimentos, ao negociar individualmente com cada um, para impedir a formação de uma unidade. Depois ele diz: tudo bem, vamos aceitar todas essas demandas, mas todas vão precisar ser regulamentadas. Assim, o sistema político retoma para si a efetivação da Constituição. Essa é a primeira figura do “peemedebismo”, embora sem a tecnologia de administração de interesses conflitantes que será desenvolvida nos anos 1990. O “condomínio peemedebista” está no poder há duas décadas. Não é à toa que todos os partidos no Brasil querem ser o PMDB, e por isso são tão irrelevantes enquanto partidos. Na hora de defender os interesses para valer, o que se forma no Congresso são bancadas suprapartidárias, como a ruralista, a religiosa.

Contudo, quando Lula assume em 2003, ele não faz uma aliança com o PMDB.

É o meu contraexemplo. O Lula assume com um programa “antipeemedebista”, porque o PT foi concentrando as forças populares de transformação. No momento em que o Lula vai para o segundo turno em 1989 contra o Collor, as forças sociais vão se aglutinando em torno do PT. Isso permitiu que o PT virasse o PT, porque o Lula foi para o segundo turno só com 16,8% dos votos. Então, ele assume o poder em 2003 com dois mandatos: reformar radicalmente o sistema político e reduzir todas as formas de desigualdade. Aí vem o mensalão e todo mundo diz que sem supermaioria ele corre risco de impeachment. O sistema político chantageia o tempo inteiro com a supermaioria. Só em 2005 Lula faz o pacto com o “peemedebismo”, que é o mesmo modelo de acomodação de interesses do governo Fernando Henrique. No primeiro momento ele recusou essa lógica, mas depois aceitou e foi além. Porque o Lula construiu uma tal supermaioria que aniquilou a oposição. Por que faz isso? Porque, no fundo, o PSDB também é um partido “peemedebista”. Aqueles quadros do governo Fernando Henrique, principalmente na economia, são o que eu chamo de “cordão sanitário”. O acordo foi: nas áreas estratégicas, como a Fazenda e o Banco Central, vocês não podem mexer, mas ficam com todo o resto. No fundo, o “peemedebismo” significa que se você se organizar e tiver peso eleitoral suficiente você ganha um quinhão correspondente no Estado onde você vai instalar a sua máquina e se reproduzir. Ao mesmo tempo, você ganha um poder de veto contra qualquer assunto que vá contra os seus interesses. As mudanças promovidas pelo governo Lula, como aumento do salário mínimo, a reforma do crédito e o Bolsa Família, foram feitas porque não encontraram vetos no sistema político. Enquanto o PT estava na oposição havia uma força política organizada que dizia que o “peemedebismo” não era algo normal. Quando o Lula faz o pacto, há uma naturalização do “peemedebismo”.

A reforma política seria a saída para superar essa crise do “peemedebismo”?

O que se abre com esse movimento é a possibilidade de formação de uma frente antipeemedebista para reorganizar a política institucional. Se isso vai acontecer ou não é outro problema. A reforma do sistema político não tem nada a ver com reforma política. A reforma política que querem fazer é uma reforma eleitoral, que é importante, mas é só parte da história. A ideia de que você vai fazer uma reforma eleitoral e vai resolver todos os problemas do sistema político é um tanto ilusória. As manifestações em si mesmas são muito positivas porque já mudaram a cultura política do país, reorganizaram forças sociais e mostraram que o sistema político está em descompasso com a sociedade. Esses protestos também dizem que não dá para continuar com um sistema político encastelado no Estado, que trava as transformações. Um sistema “peemedebista” polarizado é uma desgraça, mas pelo menos tem dois polos. Um sistema político “peemedebista” que só tenha um condutor faz com que a oposição migre para dentro do governo. Quem nasceu em 1995 nunca viu inflação e nunca viu um debate político polarizado. Então como você faz formação democrática de uma geração desse jeito? É uma tragédia para o país.

Essa crise do “peemedebismo” também é uma crise do lulismo?

A sociedade já está em um novo modelo e o sistema político ainda não. É o modelo que eu chamo de social-desenvolvimentismo, por oposição ao nacional-desenvolvimentismo que houve no país entre as décadas de 1930 e 1980. O resultado desse processo histórico, iniciado no governo Fernando Henrique, é ambíguo porque é ligado à democracia e coloca a necessidade de reduzir a desigualdade no seu centro, mas foi conquistado a duras penas em uma aliança com o “peemedebismo”. O lulismo é uma figura do “peemedebismo”, um acordo novo que elimina a oposição, ao mesmo tempo em que é também uma figura desse social-desenvolvimentismo. As ruas estão dizendo que houve enormes avanços sociais, mas que, agora, ou se aprofunda a democracia ou não vai dar. Uma das características fundamentais desse movimento é a velocidade e a intensidade. É incrível como tudo muda de um dia para o outro. O sistema político ficou completamente desarmado. Os políticos ficaram 20 anos se blindando contra as ruas e aí vêm as ruas e passam por cima deles. Além do Movimento Passe Livre, os comitês populares da Copa foram fundamentais nas mobilizações. Eles não são ligados a nenhum partido e possuem uma independência e autonomia que outros movimentos perderam. São forças que não fazem parte do consenso social-desenvolvimentista colocado pelo governo Lula, de que só havia uma única forma e um único ritmo possíveis para fazer as transformações.

Encontro com o autor: Dia 6, às 21h30m, Marcos Nobre participará da mesa “O povo e o poder no Brasil”, com André Lara Resende.

O MONSTRO ACORDOU



Opinião / Ferréz

RETIRADO: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-monstro-acordou-2980.html

O monstro acordou

Fazer política no Brasil é ficar muitos anos sem conversar com o povo, descobrir as favelas só para pedir votos. Vai continuar sendo assim?
por Ferréz — publicado 28/06/2013 08:00, última modificação 28/06/2013 11:30
Piero Locatelli
Protesto na periferia
Protesto na periferia de São Paulo, na terça-feira 25
Se você entrasse num bar de periferia há alguns anos e perguntasse o que eles acham do Movimento Sem Terra ou das “invasões”, como são comumente chamadas, os fregueses do bar, em sua maioria, diriam que era uma pouca vergonha e alguns até desafiariam o movimento a entrar em suas casas, ironicamente um barraco de madeira de dois metros quadrados.
De uns anos pra cá, quando se trata de qualquer movimento social, as conversas mudaram, o cidadão começou a prestar mais atenção no que anda rolando, com vários meios de comunicação agregados, como blogs, redes sociais etc. A notícia tem vários pontos de vista, todo mundo que tem um celular é um repórter, todo mundo que digita mensagens também pode escrever um texto com sua opinião.
Já presenciei cenas em que o ponto de vista de um senhor de 50 anos foi transmitido pelo seu neto, que viu na internet o fato e comentou com o avô.
E, quem diria, as conversas tão exaltadas do governo, segundo quem não existe mais miséria no Brasil, seriam um dia contestadas, não por intelectuais que conhecem de números e índices, mas sim pelo próprio povo que o elegeu.
Os protestos não se dão por um só motivo, muita gente sabe disso, mas a fragmentação do que querem é ainda maior. Uns lutam por hospital, outros pela reprovação da PEC 37, e a maioria pela moralização da política brasileira.
Vamos aos fatos na crua realidade do dia-a-dia. O que adianta ter carro, se as vielas não tem passagem, se chegar a qualquer lugar virou um desafio infinito de paciência? O governo diz que somos todos pedestres, pede respeito um ao outro, mas depois de uma hora no trânsito todo mundo vira um canalha.
São Paulo tem lindas pontes para exibir seu congestionamento; lindos prédios para você ver enquanto caminha a pé na marginal; nossos moradores têm medo de assalto, alergia a poluição. Fazemos brigas dignas de UFC ao vivo em qualquer lugar. Ter ponte igual à Europa não quer dizer que os postos de saúde tenham pelo menos algodão.
É fácil se tachar e ser tachado de classe média e não poder pagar a luz de casa, não poder ter tevê a cabo, pois o arroz subiu de 6 para 10 reais em meses.
A classe média engorda os protestos, pois tudo que paga também não funciona – os planos de saúde marcam consultas para dois meses com especialistas. Está quase no padrão SUS.
A bolha falsa do progresso estourou, a caixa de Pandora se abriu, e isso é visível quando você vê o tiozinho que é fanático por futebol dizendo que esses gastos com estádio são “tiração” demais, pois sua cirurgia foi remarcada para o ano que vem, e os exames só valem mais três meses.
O monstro acordou, ninguém pode mais para dormir, tudo tem um limite e o nosso já chegou. Eles mentem na tevê, a gente se liga na internet, eles falam de pesquisas, a gente ouve as vozes das ruas, eles mudam de opinião, a gente desliga o rádio e vai pra rua ouvir algo mais contundente.
A balela em defender o patrimônio está caindo, não adianta morar bem e não poder abrir a janela.
Agora ninguém fecha mais, somos mais do que a luta por moradia, pelo direito de ir e vir, não podem nos tachar por classe social, pois todo mundo tá junto nessa. A cidade é nossa e essa briga também.
Os gritos são contra a roubalheira, contra apanhar de fardado por querer levar o pão para casa, por querer vender CD’s nas ruas – chega de levar tiro por estar no bar jogando sinuca.
Todos parecem querer olhar bem na cara do sistema e dizer: Nem sua mídia tá mais do seu lado, o cenário que eles vão encontrar aqui no ano da Copa é parecido com The Walking Dead, pois todos nós estamos na ilha de Lost.
Quem em qualquer periferia consegue manter a família do jeito que tá? No centro das cidades, quantas empresas fechando, quantos pequenos comerciantes desistindo, pois todo tipo de mercadoria vem mais barato do estrangeiro?
Tenho dezenas de exemplos de amigos que sempre trabalharam duro e, agora, sem saída, estão vendendo tudo que têm, tentando correr atrás de outra possibilidade de manter a sua família. Mas, se o progresso era tão festejado, onde ele está?
Nas passeatas, a força da multidão mandou baixarem as bandeiras de partido. Os que caminham com lenço no rosto não se identificam mais com nada que tenha siglas. Suas falas são contundentes.
Estamos todos cansados de pagar, de apanhar, de cheirar fumaça, de ser trânsito, de perder celular no farol, de ser maltratado por todo mundo que tem um uniforme, de ser convencido a ter e não a ser uma pessoal melhor.
A resposta do governo é a de sempre – bala de borracha para o aluno que nunca teve material digno na escola, gás lacrimogêneo para o pai de família que não teve sequer inalação para o filho no posto de saúde, spray de pimenta para o camelô que luta o dia todo e viu que a marmita já estava azeda.
O que todos querem? É só ler as placas: hospitais padrão Fifa. Mas fazer política no Brasil é ficar muitos anos sem conversar com o povo, descobrir as favelas só para pedir votos.
O povo quer alguém que, ao descer as vielas, saiba andar nelas, quer ver o terno cheio de poeira, o colarinho aberto, o suor na pele não tão lisa, não tão branca, quer um deles com cara de nós.
O povo não quer pedir mais nada, quer exigir, por isso foi para as ruas, que são deles, que são nossas, mas onde não mais levamos nossos filhos para brincar.
Um sonho era ver brasileiros usando a bandeira não somente para os jogos.
Talvez tenhamos um plano mesmo para gerir esse país, sem que tenhamos que mudar as cores dos uniformes das escolas a cada troca de prefeitura, um país que não mude as gestões das subprefeituras a cada troca de vereador.
Talvez um país onde a escola particular seja igual à pública, onde o convênio e o SUS são parecidos em qualidade, onde a segurança não precise ser privada.
Ainda se tem muito para mudar, muito para exigir, e nossos motivos para protestar nunca foram tantos.

*Ferréz é escritor e fundador da 1DaSul, grupo que promove eventos e ações ligadas ao hip-hop no Capão Redondo, em São Paulo

domingo, 23 de junho de 2013

TEXTO DE CHICO ALENCAR

Chico Alencar*
 
A inédita mobilização que as redes sociais promovem cutuca quem exerce função pública e os partidos políticos brasileiros. Destaque-se que a fragilidade organizativa da movimentação NÃO indica que a esse despertar ativista faltará continuidade e ampliação: há um caldo de cultura de descontentamento geral.
 
Pela primeira vez em quase meio século de presença em manifestações de rua - desde 1966 (contra a ditadura) - vi tamanha multidão sem carro de som, sem coordenação explícita, sem lideranças personalizadas. O clima bonito, de cidadania plural reunindo todas as 'tribos', diz, de maneira difusa mas não confusa, o que quer.  Algumas faixas e um mundo de cartazes artesanais expressavam críticas aos governantes - de todos os níveis -, aos abusivos gastos públicos com a Copa,  à repressão policial, loas ao despertar de consciência, estímulo ao fazer histórico, pedidos de apoio à cultura popular, defesa da educação e saúde públicas de qualidade, repúdio à corrupção e... aos partidos. A despeito disso, as consignas são todas políticas, por óbvio.
 
Bandeiras de partidos no ato foram tensionados o tempo todo: "Ei, você aí, a bandeira do protesto é a bandeira do Brasil". Identificado por muitos, não sofri qualquer repto - para minha própria surpresa. Brinquei com alguns jovens: "mas eu tenho partido, tomo partido!"  Eles riam e diziam que me "aliviavam" porque eu "era honesto".  O repúdio, portanto, parece ser ao padrão dominante na política, marcada pelo fisiologismo e pelas negociatas.  Negação saudável da politicagem reinante. A moçada, que só conheceu o PT do poder e não vê nele 'ethos mudancista', quer uma ideologia para viver - e não a tomada do Poder. A maioria não identifica nos partidos - nem nas entidades de trabalhadores e estudantes 'oficializadas' - a dimensão utópica do vir a ser.  No limite, diria que os jovens não enxergam a grande Política nos partidos políticos, e têm razões para isso.
 
Junto a essa forte descrença também há sonho: "Desculpe o transtorno, estamos mudando o país" é consigna recorrente, emblema do aspecto genérico e diverso dos protestos. Trata-se de um processo educativo, de ensaio e erro. Comparo essa ojeriza à política ao vômito quando comemos alguma coisa estragada. Depois de lançá-la fora dá um alívio, o mal estar passa e a gente volta a ter apetite. A política institucional no Brasil anda mesmo muito apodrecida e privatizada. Urge celeridade e vontade, na política oficial, para afinal avançar rumo a uma Reforma que aproxime a representação dos representados, e não apenas das grandes corporações que financiam as campanhas vitoriosas, como atualmente. É imperativo imediato ampliar os mecanismos efetivos de participação direta da população.
 
Acredito que o processo de amadurecimento desses movimentos, que fogem inteiramente aos padrões clássicos, inclusive dos partidos de esquerda, implicará em que eles tenham mais organicidade e comando, até para dialogar com as autoridades do questionado Poder e dar consequência aos seus justos pleitos. Sem pauta definida, mesmo ampla, e interlocutores chancelados, o redemoinho das ruas não sustentará em longo prazo essa comovente agitação cidadã.
 
No bojo da movimentação de massa, há grupos minoritários que entendem que é preciso confrontar os símbolos do Poder de forma direta e violenta. Eles, 'autonomistas', não aceitam outra orientação que não a própria e julgam estar realizando 'atos revolucionários' quando tentam tomar prédios públicos ou atacar agências bancárias e outras lojas. Em toda cidade grande há segmentos assim e setores sociais inorgânicos que aderem facilmente às depredações em um espaço urbano que lhes é, no cotidiano, hostil.  Estes, com suas ações laterais e de pouca racionalidade, não representam a maioria que tem ido às ruas, mas podem criar desgaste e antipatia em relação aos  protestos democráticos e pacíficos dos quais emergem como 'cauda envenenada'.
 
*Chico Alencar é deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro.

sábado, 22 de junho de 2013

AS MANIFESTAÇÕES DE HOJE SÃO DIFERENTES

7 PONTOS PARA ENTENDER POR QUE AS MANIFESTAÇÕES DE HOJE SÃO DIFERENTES (E UMA MESMA CANÇÃO)

7 PONTOS PARA ENTENDER POR QUE AS MANIFESTAÇÕES DE HOJE SÃO DIFERENTES (E UMA MESMA CANÇÃO)

1 - Em 1970, quando Chico Buarque compôs Apesar de você, vivíamos em plena ditadura militar no Brasil. Agora, em junho de 2013, não (felizmente).

2 - Lutávamos àquela época por liberdade (embora não estivéssemos ainda convertidos à democracia). Agora também (mas não lutamos hoje contra a limitada democracia realmente existente na sua essência, quer dizer, no que ela tem de democrático: as multidões que saem às ruas neste memorável junho de 2013 estão expressando um descontentamento com um velho sistema que - do modo como está organizado - sentem não mais representá-las).

3 - Antes havia liderança, programas políticos, estratégia, táticas. Agora não há. Há milhares de micromotivos diferentes que se combinam e recombinam por emergência.

4 - Antes não vivíamos em uma sociedade altamente conectada (e nem havia as ferramentas virtuais que permitem a interação em tempo real ou sem-distância). Agora vivemos no dealbar de uma sociedade-em-rede (e temos a Internet e as midias sociais, como o Facebook, o Twitter, além da telefonia celular).

5 - Antes a dinâmica era mais adesiva e participativa. Agora é mais interativa.

6 - Antes havia assembleísmo, recrutamento para organizações hierárquicas, militantes obedientes às suas direções que atuavam como agentes no meio da "massa" para conduzi-la. Agora temos interativismo (ativismo interagente, no qual cada pessoa comparece nos seus próprios termos e desobedece aos que querem mandá-la) compondo uma espécie de sistema nervoso fractal de imensas multidões.

7 - Antes a fenomenologia da interação - a contaminação que se alastra de forma distribuída, seguindo uma dinâmica epidemiológica, peer-to-peer - não podia se manifestar de modo perceptível (como reverberação, múltiplos laços de realimentação de reforço, clustering, swarming, cloning, crunching). Agora a fenomenologia da interação está acelerada, contraída no tempo de sorte a poder ser percebida e assistimos, em vários lugares do mundo, a incidência cada vez mais frequente de aglomeramentos, enxameamentos, contaminação viral por proximidade, imitamento nas vizinhanças e contração do tamanho social do mundo (ou redução dos graus de separação).

Mesmo com todas essas diferenças, por algum motivo, a velha canção de Chico Buarque parece expressar a mesma emoção das multidões que vão às ruas, 43 anos depois.

E podemos cantar nas praças outra vez.

APESAR DE VOCÊ

Chico Buarque (1970)

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
La, laiá, la laiá, la laiá

SENADOR CRISTOVAM BUARQUE DEFENDE O FIM DOS PARTIDOS POLITÍCOS

Senador Cristovam Buarque defende o fim dos partidos políticos

Um dia após protestos registrarem violência contra militantes partidários, senador do PDT afirma que hostilidade é “uma renovação da democracia”
por Gabriel Bonis — publicado 21/06/2013 13:41, última modificação 21/06/2013 14:24
Renato Araújo/ABr
Senador pede o fim dos "partidos oficiais", mas diz que uma democracia não funciona sem partidos
Um dia após manifestações contra o preço do transporte público e outras pautas levarem mais de 1 milhão de pessoas às ruas de todo o Brasil, em protestos nos quais militantes de partidos políticos e movimentos sociais foram hostilizados, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) defendeu, nesta sexta-feira 21, no plenário do Senado, o fim dos partidos. Segundo o senador, essa seria uma boa resposta aos protestos. “Nada unifica mais hoje todos os militantes e manifestantes do que a ojeriza, a desconfiança, a crítica aos partidos políticos. Talvez seja a hora de dizermos: estão abolidos todos os partidos. E vamos trabalhar para saber o que é que a gente põe no lugar”.
Para Cristovam, sua ideia não ameaça a democracia. Em entrevista a CartaCapitalBuarque reconhece que “uma democracia não funciona sem partidos”. “Hoje, não há nenhum partido. Eles são clubes eleitorais. Não existe nada ainda que substitua partidos. Mais os atuais partidos não são partidos.” O senador propõe, então, a criação de uma Assembleia Constituinte exclusiva para fazer em um ano a reforma política sobre o tema, permitindo inclusive candidatos a eleições sem filiação partidária.
Segundo o pedetista, como não há partidos de verdade no País, a solução seria a criação de novas legendas com a reforma política. “Uma constituinte exclusiva pode fazer uma reforma para que os atuais partidos oficiais sejam substituídos por outros. Eles vão surgir, você cria o seu, eu crio o meu, e tentamos buscar gente que pense como a gente. E não gente que tenha interesses comuns na hora da eleição. Pode até ser que mantenham a mesma sigla, mas têm que se reestruturar e se livrar de quem não pensa igual, criar uma identidade ideológica.”
As manifestações pelo Brasil, diz Buarque, mostram que os atuais partidos “não servem”, não têm legitimidade e “têm que ser recriados”. A hostilidade contra manifestantes com bandeiras de partidos nos protestos, por outro lado, não seria algo antidemocrático, mas “uma renovação da democracia”. “O povão que não é filiado não se identifica com partido.”
Concretizar a proposta do senador pode ser um desafio constitucional. O artigo 17 da Carta Magna afirma ser “livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos”, desde que “resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo”. Mas como excluir os partidos sem ferir a noção de democracia e pluripartidarismo? “Vai depender de como fizermos a reforma política, mas acho que temos que ter eleições avulsas, permitir que pessoas sem partido se candidatem. A minha palavra [pela extinção é dos partidos] oficiais, que recebem dinheiro do fundo e tempo de tevê. Mas as pessoas vão continuar se associando politicamente [sem partidos]”, afirma.
Cristovam diz que a sugestão, divulgada também pelo Twitter, gerou repercussão negativa para sua imagem. “Nunca recebi tanta pancada. O mínimo que me chamaram foi de canalha e senil.”

A BANDEIRA DO MEU PARTIDO FOI RASGADA


Douglas Belchior conta sua experiência na avenida Paulista: "rasgaram minha bandeira da UNEafro, um movimento social negro que nada tem a ver com partidos, mas que não deixa de ser um"

por Douglas Belchior publicado 21/06/2013 15:41

Facebook / Douglas Belchior
 
 

Democracia
Uma sociedade dita "democrática", sem partidos mais parece ditadura
Por ser um direito constitucional, é mais que legítimo a opção de se afiliar ou adotar uma preferência partidária. Por muitos anos, desde o início da minha fase adolescente até oito anos atrás, fui militante orgânico do PT. Hoje tenho preferência pelo Psol e não me sinto nem mais nem menos digno que qualquer outro com escolha diferente.
Incentivo meus alunos e amigos a se afiliarem em um partido que se aproxime das ideias que defendem (e, lógico, disputo essas ideias). Ao mesmo tempo defendo e até admiro aqueles que, legitimamente, optam por "tomarem partido" de não ter partido.
Reconheço que é cada vez mais difícil respeitar ou defender partidos políticos. A prática fisiológica, aliancista e acordista promovida nos últimos 10, 15 anos, desconfigurou o papel ideológico e de demarcação política que se espera dessas organizações. Isso, somado à prática sistemática da corrupção, tornou os partidos e a quem a eles se referencia, prévios vilões.
Ainda assim, apesar de todos os pesares – e são muitos mais e profundos que estes que relato aqui –, defendo os partidos. Uma sociedade dita "democrática", sem partidos mais parece ditadura.

Quando uma minoria não pode se manifestar ou é impedida de se expressar – seja com palavras, seja com bandeiras – e é reprimida, hostilizada ou violentada por isso, mais parece ditadura.

Nesta quinta, dia 20 de junho, estive, uma vez mais, no protesto do Passe Livre na Capital de São Paulo. Foi triste perceber fascistas escondidos por trás das bandeiras e do hino nacional sendo apoiados pela massa festiva, como se na beira do gramado.
É extremamente preocupante que um movimento tão massivo e espalhado quanto esse tenha sido desvirtuado por grupos neonazistas, fascistas, nacionalistas, carecas do ABC, skinheads, grupos racistas, tudo isso com o apoio fundamental dos grandes canais de TV e emissoras de Rádio.

É terrível essa dúbia sensação de viver um momento ímpar de mobilização e, ao mesmo tempo, perceber o movimento sendo catalisado, cooptado e apropriado pelas forças políticas que mais desgraças causaram ao povo brasileiro nesses 513 anos.
Esses grupos, além de reprimir e agredir manifestantes partidários, rasgaram minha bandeira da UNEafro, um movimento social negro que nada tem a ver com partidos, mas que não deixa de ser um.

Estive ali e vi se unir à linha de contenção e enfrentamento ao bloco nazi-fascista, companheiros de militância e amigos de diversos grupos, partidos e movimentos diferentes. O cordão humano formado para se defender da direita raivosa, representada por “bate-paus” fisicamente modificados em academias, precisa se repetir.
E penso eu, às 2h da madrugada e ainda sob o efeito da adrenalina: esse é nosso desafio... Esquerda de todo o Brasil, uní-vos contra a direita, forte, presente e raivosa!

*Douglas Belchior é professor de História e integrante da UNEafro Brasil, e esse texto foi publicado originalmente no seu blog pessoal.

retirado: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-bandeira-do-meu-partido-3725.html

PROTESTOS NO BRASIL , O QUE DISCUTIR ?


retirado:   http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2013/06/o-sentido-da-voz-rouca-das-ruas.html
ESPECIAL - 21/06/2013 21h33 - Atualizado em 21/06/2013 21h39

O sentido da voz rouca das ruas

Como entender o que move milhares a protestar, na opinião de dez analistas convidados por ÉPOCA

|Os protestos que se sucederam em velocidade e proporções espantosas nas ruas do país deixaram um rastro de perplexidade no público – e dissolveram, como ácido, os lugares-comuns que pautavam, até então, o debate político no Brasil. Jovens apáticos e alienados? Pense duas vezes. Uma classe média de bem com a vida que leva? Nem pensar. A dimensão do que acontece nas ruas do Brasil provoca muitas incertezas, mas não deixa dúvidas de que algo vai muito mal no país. O que exatamente? ÉPOCA convidou analistas para refletir sobre as possíveis respostas a essas e outras incertezas ecoadas nas vozes das ruas. Pode-se especular sobre as causas dos protestos, mas os comentários colhidos deixam claro que o rumo dessa onda – e o futuro do país – está em aberto, à espera da próxima manifestação. E da próxima. E da seguinte... A seguir, algumas das reflexões. 
Esta reportagem faz parte do especial de ÉPOCA desta semana. Confira ao fim desta página outros conteúdos que estão na revista.
O sentido da voz rouca das ruas (Foto: Marcio Fernandes/Estadão Conteúdo, Rogério Albuquerque/ Ed. Globo, Joel Silva/Folhapress, José Patrício/Estadão Conteúdo, Filipe Redondo/Ed. Globo, Wenderson Araujo, divulgação, Camila Fontana/ÉPOCA, Ana Paula Paiva/Valor/Folhapress e Ueslei Marcelino/Fol)

PROTESTOS NO BRASIL

Professores e professoras, 
A História do Brasil está mudando... e necessitamos discutir como os nossos alunos! 
Isto é o Currículo Vivo !!!
Somos formadores de opinião, disponibilizar as diversas opiniões sobre um mesmo fato e 
discuti-las a seguir faz parte de nossas atribuições.
Proponho que este espaço seja utilizado por nós, professores,  para o debate de ideias sobre este importante momento de nossa História. Há todo tipo de textos e opiniões na rede, temos que concordar, discordar e principalmente opinar.   Aguardo textos e links para a publicação. 
Beijos,
Regina Karla



domingo, 28 de abril de 2013

RENDIMENTO DOS ALUNOS DE MATEMATICA PIORA ENTRE O 5° E O 9° ANO

Rendimento dos alunos de matemática piora entre o 5º e o 9º ano

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O percentual de estudantes com rendimento adequado em matemática na rede pública do país cai ao longo dos anos do ensino fundamental, mostra estudo que comparou a evolução de alunos entre 2007 e 2011.
A constatação é de levantamento inédito da ONG Todos pela Educação, que detalha a evolução do rendimento dos alunos de escolas públicas do país na Prova Brasil, exame do governo federal.
O percentual de estudantes com rendimento adequado na disciplina de uma turma caiu de 22% no quinto ano, em 2007, para 12%, quando ela chegou ao último, em 2011.
Ou seja, 88% deles não sabiam calcular porcentagens ou a área de uma figura plana ou mesmo ler informações em um gráfico de colunas. E levam essa defasagem para os ensinos médio e superior.
Em língua portuguesa, o recuo entre as séries não foi tão intenso (26% para 23%).

Editoria de arte/Folhapress
Uma das explicações mais citadas por especialistas é a falta de professores na área. É na etapa final do fundamental que os alunos passam a ter aulas com docentes especialistas nas matérias.
"Um jovem com habilidade em matemática pode ter salários mais altos se for para engenharia, para bancos. Poucos querem lecionar", disse o professor Rogério Osvaldo Chaparin, do Centro de Aperfeiçoamento do Ensino da Matemática, da USP.
No último levantamento federal, matemática apareceu como a área de maior deficit de professores (65 mil).
Igor Willian, 17, ficou quase 2010 inteiro sem docente da disciplina, na zona leste da capital. "Até hoje tenho dificuldade com matemática, física e química, porque fiquei aquele ano no pátio."
Ele recorreu ao Henfil, cursinho popular, para diminuir a defasagem. "Gostaria de fazer engenharia civil, mas tenho medo dos cálculos."
Para a gerente da área técnica do Todos pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, há dificuldades adicionais nos anos finais do fundamental.
Uma delas é que os alunos são divididos entre municípios e Estados. "O final do fundamental fica num limbo, quase sem políticas para melhoria. E em matemática o problema fica mais evidente, porque há uma sequência difícil de recuperar depois", diz.