domingo, 28 de abril de 2013

RENDIMENTO DOS ALUNOS DE MATEMATICA PIORA ENTRE O 5° E O 9° ANO

Rendimento dos alunos de matemática piora entre o 5º e o 9º ano

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
O percentual de estudantes com rendimento adequado em matemática na rede pública do país cai ao longo dos anos do ensino fundamental, mostra estudo que comparou a evolução de alunos entre 2007 e 2011.
A constatação é de levantamento inédito da ONG Todos pela Educação, que detalha a evolução do rendimento dos alunos de escolas públicas do país na Prova Brasil, exame do governo federal.
O percentual de estudantes com rendimento adequado na disciplina de uma turma caiu de 22% no quinto ano, em 2007, para 12%, quando ela chegou ao último, em 2011.
Ou seja, 88% deles não sabiam calcular porcentagens ou a área de uma figura plana ou mesmo ler informações em um gráfico de colunas. E levam essa defasagem para os ensinos médio e superior.
Em língua portuguesa, o recuo entre as séries não foi tão intenso (26% para 23%).

Editoria de arte/Folhapress
Uma das explicações mais citadas por especialistas é a falta de professores na área. É na etapa final do fundamental que os alunos passam a ter aulas com docentes especialistas nas matérias.
"Um jovem com habilidade em matemática pode ter salários mais altos se for para engenharia, para bancos. Poucos querem lecionar", disse o professor Rogério Osvaldo Chaparin, do Centro de Aperfeiçoamento do Ensino da Matemática, da USP.
No último levantamento federal, matemática apareceu como a área de maior deficit de professores (65 mil).
Igor Willian, 17, ficou quase 2010 inteiro sem docente da disciplina, na zona leste da capital. "Até hoje tenho dificuldade com matemática, física e química, porque fiquei aquele ano no pátio."
Ele recorreu ao Henfil, cursinho popular, para diminuir a defasagem. "Gostaria de fazer engenharia civil, mas tenho medo dos cálculos."
Para a gerente da área técnica do Todos pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, há dificuldades adicionais nos anos finais do fundamental.
Uma delas é que os alunos são divididos entre municípios e Estados. "O final do fundamental fica num limbo, quase sem políticas para melhoria. E em matemática o problema fica mais evidente, porque há uma sequência difícil de recuperar depois", diz.

"REPENSAR " A EDUCAÇÃO OU TRANSFORMÁ-LA?

“Repensar” a educação ou transformá-la?


Como são aborrecidos os estudos que falam eternamente em “reformas” e “desempenho” — mas não se dão conta de que o modelo iluminista está superado, e já há formas reais de ultrapassá-lo 
Por Alexandre Sayad, no Portal Aprendiz
“Ser” é melhor que “pensar”. Assim como “fazer” vale mais que “pensar”.  Sinto um misto de preguiça e frustração quando leio artigos sobre educação clamando para que a velha escola seja repensada – excitados pelas avaliações frustrantes do Ideb . Um exercício meramente ególatra.
A escola é repensada continuamente desde que o modelo iluminista, e posteriormente fordista e politécnico, de ensino e currículo se fizeram presente.  São toneladas de pesquisas e teorias forjadas na solidão das salas de universidades. O universo da educação formal, e das faculdades de pedagogia, é majoritariamente composto por pensadores e pesquisadores. Pensar e repensar são suas especialidades.  Transformar, não. Eis a questão.
Por exemplo, o MEC propôs semana passada para o Ensino Médio algo prosaico em termos de pensamento, mas inovador na prática: um modelo matricial, e não curricular de ensino. Isso significa que as disciplinas se mesclariam estimulando a elaboração de projetos interdisciplinares pelos alunos. Ora, a chamada “pedagogia de projetos” é algo criado por John Dewey no começo do século passado!  Colocá-la em prática é a grande novidade – pensá-la, não.
Schumacher College, em Londres, e a Oregon Episcopal School, nos arredores de Portland (EUA) não têm currículo há muito tempo. Trabalham por projetos e estão entre as instituições mais renomadas e respeitadas do mundo. No Brasil, ignorado pela grande mídia, o tal Ensino Médio Inovador já está presente desde 2009 em mil escolas com Ideb abaixo da média.
Fico menos animado ainda quando percebo que o PNE (Plano Nacional De Educação), algo elementar para a melhora do ensino, está com votação truncada na Câmara e que os sindicatos já chiaram quando souberam da proposta do MEC. Começa a ir por água abaixo uma implementação que poderia, juntamente com outros ajustes, dar uma guinada no Ensino Médio a favor dos que têm mais interesse nele: o estudantes.
Por trilhas alternativas, projetos bem implementados de produção de comunicação por alunos em escolas têm o poder de transformá-las. Esses são realidade em mais de três mil escolas públicas do Brasil – não vi até agora um aferimento de qualidade por parte do MEC ou institutos ou uma reportagem na grande mídia sobre eles.
A última pesquisa que tive notícia, o Aprova Brasil, do Unicef, mostrou que escolas que se aproveitavam do fazer comunicativo obtinham Ideb acima da média porque estimulavam a participação da comunidade nas decisões escolares.
Nesses casos, não se trata de fórmula mágica ou grandes exercícios mentais.  Trata-se de aproveitar o que de melhor o estudante faz fora da sala de aula, vídeos e textos com celulares e redes sociais, e colocá-los a favor da aprendizagem.  Nesse sentido, uma recente pesquisa nos Estados Unidos surpreendeu: segundo a Child’s Mercy, 83% dos pais entrevistados, apesar dos receios recorrentes das redes sociais, aprovavam seu uso como importante na educação dos filhos.
Repensar a escola não causa impacto algum à educação. Refazê-la, sim; e isso implica em experimentar. Para medir os resultados são necessários anos, talvez gerações, afinal impacto educacional não se mede da noite para o dia.  E uma escola experimental pode facilmente ser refutada pelo seu público, em geral conservador e avesso a experimentalismos –  mas que adora “repensar”  a educação de seus filhos.
A pergunta que fica é: estamos realmente prontos para uma nova escola, na prática?

ROTEIROS PARA UMA NOVA EDUCAÇÃO

Roteiros para uma nova Educação

Projeto Educ-Ação resgata iniciativas transformadoras que inspiram, ao redor do mundo, novas formas de compartilhar conhecimentos
Por Vagner Alencar, no Porvir
Quatro brasileiros e um desejo em comum: mapear e trazer à luz iniciativas transformadoras ao redor do mundo que inspirem novas formas de ensinar. Para clarear este caminho, o grupo decidiu então realizar uma jornada por 5 continentes para conhecer diferentes experiências. O tour já está acontecendo e, até o final do ano, 12 escolas serão visitadas. O resultado da jornada será publicado em um livro totalmente gratuito e livre na internet para inspirar pais inquietos, jovens curiosos e novos empreendedores em educação.
Um grupo de ativistas-educadores-deseducadores, como se intitulam, criou o Educ-Ação, uma iniciativa sem fins lucrativos que nasceu do encontro entre Eduardo Shimaraha, diretor de inovação e sustentabilidade do Anima Educação, o jornalista André Gravatá e as pesquisadoras Camila Piza e Carla Mayumi.
A jornada já pode ser acompanhada no blog do projeto, onde eles estão compartilhando as primeiras impressões dessa vivência. A ideia é apresentar histórias humanas, por trás das escolas, que possam inspirar e ajudar a repensar os modelos de ensino no Brasil. “A proposta sempre foi trazer uma perspectiva multi. Não ouvir só escolas, mas também estudantes, ex-estudantes, pais e pessoas da fundação. Queríamos dar uma perspectiva bem 360o”, afirma Carla Mayumi, pesquisadora da Box1824.
A equipe mapeou cerca 100 iniciativas inovadoras ao redor do mundo, escolas formais e informais e elegeu 12. A ideia é visitar todas as escolas até o fim do ano, tempo necessário para lançar o livro no início de 2013. “Ao invés de ir atrás de editora, queremos que qualquer pessoa possa baixá-lo para dar mais acesso e chegar ao maior número de pessoas possível”, afirma Carla. Uma das inquietações que a movem neste projeto vem da educação dos seus filhos. “Tenho um filho adolescente e uma filha de 3 anos, o que vai se tornando uma decisão séria sobre o que vão estudar e de qual forma, já que isso tem reflexo na vida toda. É preciso saber que existem outros formatos, que não estão em prática no Brasil”, diz.
Em viagem
Recém-chegado da Europa, o jornalista Gravatá entrevistou mais de 50 pessoas durante as três semanas que passou em três países europeus. Conheceu oito escolas e projetos dos quais três terão destaque no livro. A primeira delas é Team Academy, na Espanha (já retratada aqui no Porvir), uma iniciativa com foco em fomentar o empreendedorismo nos jovens. Já na Suécia, o jornalista visitou a YIP (Youth Initiative Program), um projeto voltado a jovens de 19 a 25 anos que, durante 10 meses, vivem e desenvolvem experiências em que exploram aspectos pessoais (conhecendo melhor a si mesmos) e sociais (por meio de intercâmbios em outros países, atuando como voluntários).
A última parada de Gravatá foi na  Inglaterra, onde conheceu o Schumacher College. Segundo ele, a instituição tem uma visão de educação conectada com a natureza e uma das questões mais intensas é o conhecimento valorizado de uma maneira mais abrangente. “Um dos pontos mais interessantes é que na Schumacher não é trabalhado apenas o raciocínio lógico. A outra característica é que professores e alunos vêm do mundo inteiro, atuando em vários campos do conhecimento. E não só os estudantes, como as pessoas da organização, precisam cuidar da escola de forma prática, lavando banheiro e fazendo comida”, afirma.
Atualmente, Gravatá desenvolve um projeto com escolas públicas de um jogo que tenta motivar o empreendedorismo e protagonismo nos jovens e no ano passado organizou o TEDxJovem@Ibira. “Educação é um tema que sempre teve muita importância para mim, quero continuar me dedicando e participar deste projeto é umas das formas, escrevendo este livro com estes parceiros”, afirma.
Parcerias
A largada do projeto se deu por meio de uma doação anônima. O recurso foi fundamental para as primeiras viagens já realizadas pelo grupo. Mas para prosseguir com a jornada, o quarteto vai lançar, na próxima semana, um vídeo na plataforma de financiamento coletivo Catarse para ajudar nos custos da edição, do blog e as despesas de viagens.
Os próximos passos são ainda buscar apoios de institutos e fundações desde networking à troca de conteúdos. O Porvir vai acompanhar de perto o projeto, numa parceria baseada na troca de conteúdo. Vamos publicar textos construídos em conjunto com o quarteto, apresentando algumas das iniciativas que eles encontrarem no caminho e contaremos também com artigos pessoais onde os autores vão nos adiantar algumas das impressões e emoções vividas na jornada. “O Porvir vai nos ajudar a qualificar o conteúdo do blog e mantê-lo alimentado e nós também ajudaremos a mapear novos modelos inspiradores para o site. Temos a mesma linha de pensamento, buscamos conteúdos propositivos e inovadores”, diz Carla.
RETIRADO: http://ponto.outraspalavras.net/2012/09/20/livro-quer-inspirar-inovacoes-em-educacao/

NOVA EDUCAÇÃO: QUE PAPEL TERÁ O PROFESSOR?

Nova Educação: que papel terá o professor?

Professor-Designer-de-Curriculo
Ele nunca reassumirá condição de fonte do saber. Fará algo muito mais refinado: identificar potencialidades dos alunos e orientar sua pesquisa
Por Vagner Alencar, no Porvir
O termo é desconhecido no Brasil, mas é bom você já ir se familiarizando com ele. O professor tradicional – esse com o qual estudamos anos e que conhecemos hoje – vem gradativamente se transformando no que em algumas escolas por aqui, mas mais intensamente nos Estados Unidos, chamam de designer de currículo. A principal função desse “novo” profissional está a de desenvolver currículos e projetos interdisciplinares, integrando às novas tecnologias. “O professor designer de currículo é a expressão maior e mais completa do mestre contemporâneo. Vai além de ministrar o conteúdo estrito senso, mas é também responsável por preparar o educando para o hábito de aprender a aprender, desenvolvendo habilidades de aprendizagem que são consideradas imprescindíveis aos profissionais e cidadãos em um mundo centrado na inovação”, afirma Ronaldo Mota, ex-secretário Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e atualmente professor visitante do Instituto de Educação da Universidade de Londres.
Esses profissionais tanto podem se dedicar exclusivamente ao design de currículo quanto podem ser professores que intercalam essa função com sua prática de sala de aula. De acordo com Mota, eles poderão, por exemplo, criar portais interativos para abrigar suas videoaulas e outros recursos multimídia ou ainda estimular os estudantes para que criem seus próprios blogs. Os portais poderão servir como ambientes – além da sala de aula – para relação permanente entre o educador e os educandos, bem como os educandos entre si.
Mota, que também foi Secretário Nacional de Educação Superior, aponta como outra nova demanda desses designers de currículo a criação de Moocs (Massive Open On-line Course, cursos on-line gratuitos e em grande escala) . “Isso vai ser uma enorme revolução, uma vez que o professor tradicional gradativamente se transformará no designer educacional, que vai precisar dominar a tecnologia para produzir essas aulas”, afirma.
Mas nem tudo é tecnologia. Em escolas onde o modelo vigente inclui aprendizado baseado por projeto, por exemplo, esse profissional cria aulas que envolvem ações transdisciplinares. Na norte-americana High Tech High, que desenvolve esse modelo de ensino, os docentes se reúnem diariamente para discutir como um determinado conteúdo pode se tornar um projeto que envolva a sua disciplina e as dos demais docentes. Um dos pilares da instituição é exatamente ter o professor como um designer, função que empodera o educador e lhe dá a responsabilidade de ser o guia de sua classe.
Na instituição, as aulas são estruturadas em blocos mais longos – ao contrário dos tradicionais tempos de 50 minutos – com o intuito de integrar o currículo, unificando as matérias e facilitando o aprendizado dos estudantes. Física e matemática são ensinadas juntas, assim como história, filosofia e língua inglesa são aglomeradas em única disciplina: humanidades. “Acreditamos na integração do currículo. Em vez de ir a uma aula de história e uma de inglês, o aluno tem um professor de humanidades. A escola tem um time de professores trabalhando para criar projetos juntos. Existe um aluno que aprende colaborativamente, com tutores virtuais, sozinhos, com material impresso ou não. Nós damos a ele a oportunidade de estudar em cada uma dessas modalidades, de acordo com o que cada um precisa”, afirmou Melissa Agudelo durante o Transformar 2013.
Assim como na High Tech High, a rede Summit Public Schools – grupo de escolas californianas que está ajudando jovens de famílias pobres a ingressar na universidade – usa momentos sistemáticos de encontros entre docentes para fazer o design de seu currículo. Nas escolas, os professores desenvolvem projetos de aprendizado interdisciplinares, que normalmente associam as disciplinas curriculares ao cotidiano dos estudantes, para que façam sentido ao que estão aprendendo, com o objetivo de fazê-los pensar criticamente, além de desenvolver suas habilidades cognitivas.
A rede também está construindo sua própria plataforma de aprendizado on-line e são os professores os responsáveis por inserir conteúdos nesse ambiente virtual. A partir do próximo semestre, as escolas Summit vão adotar o modelo de blended learning – conhecido também como ensino híbrido – o que irá ajudar os designers de currículo a trabalharem mais integradamente, já que precisarão se elaborar juntos os conteúdos baseados tanto em ferramentas on-line quanto em momentos presenciais.